Os gêmeos que curavam com as mãos são considerados os primeiros santos médicos do cristianismo.
Nascimento: No século 3, na região da Arábia
Morte: Em 270, na Cilícia, na Síria
A história de Cosme e Damião é tão envolta por lendas que fica difícil saber o que é folclore e o que realmente aconteceu. Sabe-se que os irmãos gêmeos nasceram na Arábia, no século 3, e que, assim como em outros lugares do mundo, a população acreditava em várias divindades simultaneamente. Era comum as pessoas adorarem astros e fenômenos da natureza. Sol, vento e chuva eram considerados manifestações divinas. Os meninos, porém, não confiavam muito nessa crença.
“Você não acha que deve haver um pai de todas as coisas?”, perguntou Damião. “Acho, sim”, respondeu Cosme. Como o imperador Diocleciano havia proibido a crença em um único Deus, característica do cristianismo, os meninos não tinham conhecimento sobre os ensinamentos do messias. Mesmo assim, a partir desse dia, os gêmeos passaram a invocar o nome desse “pai de todos” para curar animais. Como deu certo, eles começaram a fazer o mesmo com crianças doentes da vila onde moravam. Bastava um toque ou algumas palavras para que curassem os amigos.
A mãe deles, Teodora, logo percebeu a movimentação e questionou o que estava acontecendo com os filhos. Os meninos eram órfãos de pai, um mercador árabe que morrera quando ainda eram bebês. Criados pela mãe com ajuda da família, os gêmeos contaram a ela o que haviam descoberto. Carinhosa, Teodora prometeu ajudá-los a descobrir quem era o criador do mundo.
O dom de Cosme e Damião permaneceu durante a adolescência. Sua mãe decidiu mudar com os rapazes para a Cilícia (sul da Turquia), onde morava o irmão dela, e os levou junto. Porém, deixou seus outros filhos Antimio, Leôncio e Euprério com mercadores locais. Durante a viagem, a família conheceu muitos cristãos e ouviu falar pela primeira vez de Jesus Cristo. Ao chegar ao novo destino, foram batizados e abraçaram o cristianismo.
Eles tiveram mais contato com as práticas médicas graças a um homem chamado Levi, um misto de santo e curador da comunidade local. Experiente, transmitiu aos jovens o que sabia e os ajudou a atender os enfermos. Os doentes faziam filas para serem salvos pelo toque das mãos dos gêmeos e suas palavras de fé.
Antigos relatos também contam que Cosme e Damião eram excelentes cirurgiões e que realizaram um dos primeiros transplantes de que se tem notícia. Os novos médicos deram uma nova perna a um homem que teve gangrena e o fizeram andar.
Bondosos, tinham um lema: nunca cobrar por seus serviços e recusar qualquer forma de pagamento dos pacientes. O trabalho era feito apenas pelo amor ao próximo. Desta forma, ajudaram a disseminar o cristianismo e a converter muitas pessoas.
A fama de Cosme e Damião se espalhou rápido e o cônsul Lísias, representante do imperador na Cilícia, ficou furioso com os cristãos. Sua primeira providência foi proibi-los de exercer a medicina. Depois, ordenou que toda a família dos gêmeos fosse presa. Seus outros três irmãos foram acusados de feitiçaria e obrigados a renegar o cristianismo. Cosme e Damião tentaram se explicar, dizendo que curavam em nome de Jesus, mas só pioraram a situação deles. Foram jogados numa masmorra e sofreram variadas torturas. Eles conseguiram fazer milagres até nesse momento difícil. As flechas e pedras jogadas contra os dois não conseguiam feri-los e se voltavam para seus algozes. Após um mês de martírio, Cosme e Damião morreram decapitados. Eles foram canonizados por aclamação popular e são considerados os primeiros santos médicos do cristianismo.
Nos anos que se seguiram, ficaram ainda mais populares. O papa Félix IV construiu em Roma, no século 6, uma igreja em homenagem a eles, a basílica de São Cosme e São Damião. Por volta do ano 560, o imperador Justiniano também ajudou a difundir a crença nos irmãos ao restaurar a cidade de Ciro, onde eles estão enterrados, e reconstruiu a igreja dedicada a eles localizada em Istambul.
No Brasil, o culto aos santos teve início em 1535, quando foi erguida a primeira igreja católica do país, em Igarassu (PE), que recebeu o nome deles. Eles são venerados principalmente no Rio de Janeiro e em Pernambuco. Na paróquia de Andaraí, na capital carioca, acontece uma procissão com 8 mil pessoas no dia 27 de setembro. A data ainda é comemorada em vários lugares do país porque já foi o Dia de São Cosme e Damião. Na década de 70, o Vaticano mudou para 26 de setembro o dia de homenagear os santos, mas em alguns lugares a data antiga foi mantida.
A sincretização de São Cosme e Damião com os cultos afro-brasileiros gerou o costume de oferecer doces à população nas semanas que antecedem os festejos. Na época da escravidão, não havia liberdade religiosa para os negros. Então, eles precisavam misturar sua fé com os santos do catolicismo. Com o surgimento da umbanda, Cosme e Damião foram associados aos guias espirituais conhecidos como Ibeji, que também são gêmeos. Como são espíritos de crianças, gostam de receber doces como oferendas. Mesmo não tendo uma origem cristã, essa prática é aceita pela Igreja por estimular a caridade.
Como estão ligados à figura infantil, os católicos pagam suas promessas, geralmente ligadas à cura de doenças em crianças, acendendo velas do tamanho delas.
Briga entre irmãos
Diz uma lenda popular que, certa vez, Damião teria aceitado pagamento de uma paciente por uma consulta. Cosme ficou indignado e brigou com o irmão por ter feito algo contra os princípios deles. Chateado, pediu para ser sepultado separado do gêmeo, em um lugar bem longe. Após o martírio dos dois médicos, um camelo falou a todos os presentes que Damião só aceitou a oferta da doente porque não quis humilhá-la. Com tudo devidamente esclarecido, Cosme e Damião foram sepultados juntos.
Os padroeiros dos médicos
1. Os instrumentos cirúrgicos nas mãos dos irmãos indicam que os santos eram médicos.
2. A folha de palmeira é o símbolo dos que morreram como mártires.
3. A auréola ao redor de suas cabeças indica o poder divino.
Fonte: historia.abril.com.br
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Cosme e Damião
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